Fez questão de me beijar a mão, qual cavalheiro inglês. Levou-me a beber um chá a uma casa chinesa. Fiquei bastante surpreendida com a sua atitude. Lembrou-me tanto o meu Joaquim. A principio temi por mim na sua presença. Após tamanha desilusão amorosa forçada que havia vivido com o Joaquim, encontrar um homem que se parecesse com ele, era bastante perigoso. Arriscava-me a querê-lo apenas por me lembrar outro alguém, outro coração a quem chamei “casa”.
Estas dúvidas só se desvaneceram com o tempo. Percebi aos poucos que a bondade do Joaquim, não estava latente neste homem. Que a perfeita simbiose em que vivi a minha vida ao lado do homem com quem escolhi casar-me, estava longe de acontecer com o Matt. Ainda hoje sei que jamais poderia ficar com ele toda a minha vida. Os nossos espiritos eram um tanto dispáres, as nossas almas almejavam diferentes realizações pessoais. Algo que nos distanciou lentamente e nós impediu de continuar enquanto namorados.
Após aquela noite de harmoniosa conversa, acompanhada de um chá, um cheiro agradável a insenso e luz ambiente, encontrámo-nos mais algumas vezes até ao nosso primeiro beijo. Fez-me a corte digna de um romance de cavalaria. Exactamente como viamos nos filmes, era impossível resistir ao seu charme. Ele fazia-me esquecer o mundo, as desilusões, o Joaquim, o que havia deixado em Lisboa. Fui completamente introduzida na vida londrina da altura, a Brigida costumava dizer-me que já não era portuguesa e que não voltaria a Portugal com o final do curso. No final foi ela quem ficou.
Claro que namorar um londrino me facilitou em muito a aprendizagem do inglês e integração na sociedade. Comecei a compreendê-los bem melhor do que antes. Eram educados demais, frios e distantes. As suas vidas eram stressantes, preenchidas, vazias. O Matt e eu não passámos por essa fase da vida, eramos muito jovens, ainda estudavamos, tinhamos todo o tempo do mundo um para o outro. Passavamos imenso tempo juntos. Eramos alunos de artes, factor que influenciava em muito a nossa relação, pois era um ponto comum e de acordo. Tinhamos gostos muito parecidos e chegámos mesmo a pensar em trabalhar juntos, para um objectivo comum. Adoravamos visitar galerias de arte, exposições. A nossa tarde de domingo era geralmente passada no parque da cidade, a ler um livro.
Como artistas que eramos, a viver numa cidade como Londres, eramos pessoas naturalmente excêntricas. Tinhamos alguns gostos um tanto ou quanto bizarros. Abandonei os meus vestidos esvoaçantes e o meu toque doce e inocente. Adaptei um estilo chamado actualmente “street”, jeans, sapatilhas de ténis. Algo muito diferente, mais descontraído e adaptado à vida de metrópole. Quadrados, bolas, cores berrantes, padrões invulgares. Cheguei a ser feliz. O Matt tratava-me como a uma princesa. Era terno, compreensivo, respeitador, divertido. Discutiamos pelas nossas diferenças, mas no essencial concordavamos. Ao seu lado descobri que o amor exige muita aceitação, paciência. Descobri que no fundo tinha que ser um pouco menos caprichosa e muitas vezes desejei correr dali para fora e voltar para os braços do Joaquim. Ele sim me acolhia como ninguém. Arrependi-me amargamente pelo meu erro em todas as noites passadas no meu flat a chorar, apenas em companhia da Brigida. Hoje em dia encaro tudo como um mal necessário. A minha atitude infantil custou-me caro, mas fez de mim a mulher que sou hoje.
Por vezes pareço mal agradecida, mas na verdade o Joaquim continua a ser parte da minha existência e sei que no fundo de nós existe ainda muito amor....
Ass: Rosa
. dia-a-dia de outras familias
. mulher à beira de um ataque de nervos
. pessoal do meu bairro, venham cá a baixo