Era sexta-feira de tarde e o meu coração já batia bem mais rápido do costume. Desta vez aliado à ansiedade de estar com a Rosa, estava o nervosismo do jantar com seus pais. Era a primeira vez que tal coisa me acontecia, por isso recorri mais uma vez à experiência dos meus pais. Estes disseram-me que muitas vezes era a primeira impressão que contava, por isso, além de dever ir bem vestido, deveria também levar umas oferendas. Seria de bom tom oferecer ao dono da casa um bom vinho e à sua esposa um bonito arranjo floral.
Ao entrar na florista não pude deixar de me sentir desconfortável, uma vez que já estava à espera da conversa embaraçosa que me esperava. Quando lhe disse que queria um arranjo de flores, a velhota riu-se e perguntou-me se todas as semanas ofertaria à Rosa um bouquet. Não fosse a minha educação, tê-la-ia mandado dar uma volta, pois tal assunto não lhe dizia respeito. Respirei fundo e disse que eram para a mãe da Rosa. Ao contrário do que esperava a velhota disse-me somente que sabia quais eram as flores favoritas da senhora e que iria fazer o arranjo mais bonito possível. E assim foi, sem que tivéssemos de trocar outra parelha de palavras que não as da cordialidade da despedida.
Quanto ao vinho, deixei a escolha do mesmo à experiência do meu pai. Nunca fui grande apreciador de vinho e, por isso, apenas conhecia os que passavam lá por casa às horas das refeições. De qualquer forma, ainda faltava qualquer coisa. Faltava a prenda para a Rosa, não é que me tivesse esquecido, apenas não me tinha lembrado, já que esta era a noite em que tinha de impressionar seus pais. Sem querer agoirar, decidi comprar-lhe um belo anel de prata. O ouro nunca me fascinou muito, além do que destoava de certo com o estilo da Rosa.
Eram oito da noite quando subi os degraus que me levavam à porta da casa onde decorreria o jantar. Nunca havia estado dentro da casa da Rosa, apenas à porta quando a trouxera a casa uma ou outra vez. Bati à porta. Desta casa provinha um óptimo cheiro, certamente o da refeição que me esperava. A Rosa veio abrir-me a porta e cumprimentou-me com um beijo no gesto. Também me parecia apropriado, uma vez que estávamos perto dos seus pais. Ela disse que eu estava muito bonito. Que a camisa me assentava bem. Ela, por seu turno, estava deslumbrante, com mais um dos seus vestidos que me parecia ser novo. Convidou-me para entrar e assim o fiz. A sua mãe veio logo conhecer-me e fiz questão de brindá-la logo com o bouquet. Ela agradeceu-me com dois beijos que desde logo retribui. Sabia que já tinha um aliado naquela casa. Ambas me conduziram à sala onde se encontrava o chefe de família. Estendi-lhe a mão, encarando-o olhos nos olhos. De certeza que o meu semblante transparecia o receio com que estava. Ele ergueu-se da cadeira e deu-me um forte aperto de mão, dizendo que estava contente por finalmente conhecer o rapaz por quem a sua filha estava apaixonada. Decidi que era a altura certa para oferecer o vinho, sendo que o seu pai retribuiu tal gesto com sorriso de apreço. Pareceu-me que o meu pai havia feito uma boa escolha. O jantar correu da melhor forma. Começámos por falar sobre mim, sobre o que fazia, expectativas de vida, essas coisas que os pais de namoradas tanto gostam de saber. Terminado o jantar, a Rosa e a sua mãe desapareceram na cozinha, enquanto que o seu pai me pediu que o acompanhasse até a sala para falarmos um pouco mais.
Havia chegado a altura para pedir a mão da Rosa. O seu pai era uma pessoa um tanto ou quanto tradicional, mas tal não me causava grande confusão. Perguntou-me quais eram as minhas intenções para com a sua filha. Eu disse-lhe que eram as melhores, que não tinha razões para estar preocupado. Afinal de contas, nutríamos um grande amor um pelo outro, e custava-nos imenso só podermos estar juntos durante o fim-de-semana. O pai da Rosa pareceu-me comovido com tal afirmação de honestidade. Devo-o ter recordado de outros tempos, em que nutria o mesmo sentimento pela sua esposa. Deu-me um abraço e disse que se as coisas se passavam assim tinha o seu consentimento, sendo que o da sua esposa já o tinha há muito tempo. Agradeci-lhe a forma amigável como tinha sido recebido e pedi-lhe desculpas mas teria de me ir embora, pois no dia seguinte levantar-me-ia cedo. Enquanto me apertava a mão chamou a Rosa e a sua mãe. Despedi-me da última logo ali, sendo que fiz questão que a Rosa me acompanhasse à porta para falarmos um pouco. Perguntou-me como havia corrido a conversa com o seu pai, e sem lhe responder, pus a mão ao bolso e tirei de lá o anel de prata. Na minha cabeça, apesar de um pouco piroso, tal gesto selava uma fase e iniciava outra. Despedi-me com um beijo, dizendo-lhe que agora estaríamos sempre juntos.
Seria bem melhor se sempre conseguíssemos cumprir as nossas promessas!
Ass: Quim
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. mulher à beira de um ataque de nervos
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