Corria o verão do ano da graça de 1979. Era o jantar de anos de um grande amigo meu. Fui, como sempre, o último a chegar. Desde puto que cultivo este mau hábito. Por entre as caras conhecidas que se apresentavam na casa do João, vi alguém que desde logo me captou a atenção. Ela era a única pessoa que não conhecia naquele meio.
Perguntei ao anfitrião qual era o nome da rapariga, uma vez que, naquele momento, era a única preocupação que tinha
De qualquer forma, continuei a fazer perguntas sobre ela, o João continuava com um sorriso intrigante. Decidi então perguntar-lhe o porquê da sua expressão facial, ao que ele me respondeu que ainda nem sequer lhe tinha dado os parabéns, pelo que estava a começar a pensar que a Rosa me estava a causar alguma confusão. Eu tentei disfarçar tal situação com o facto de ser por natureza um sujeito distraído, mas o João não pareceu convencido com a minha desculpa, tendo-me pegado no braço. Não percebi o que ele estava a fazer até ser tarde de mais, altura em que ele me apresentou à Rosa. Posso dizer que não me sentia assim tão nervoso desde as chamadas ao quadro nas aulas.
Por sorte a Rosa era uma rapariga bastante afável, pelo que a conversa se desenrolou da melhor forma, apesar do meu nervosismo. Ela era dois anos mais nova que eu, mas a diferença de idades parecia não ter qualquer importância, já que, como qualquer homem aos dezoito anos estava longe da maturidade devida! Ainda hoje me lembro da forma como estava vestida e de como cheirava. A conversa fluía, e as horas passaram sem que eu desse por elas. Já era tarde e eu tinha de ir para casa, tempos diferentes em que não se ficava até tão tarde fora de casa. Tentei despedir-me da rapariga que ainda há três horas atrás me era desconhecida, mas ela não quis, em vez disso pediu-me que esperasse e assim o fiz. Momentos mais tarde apareceu-me com o João, que apesar do meu esquecimento anterior, como bom amigo, se prestou a dar-me boleia. Quis despedir-me da Rosa, mas ela disse que ainda não era aquele o momento. Ela fez questão de nos acompanhar na curta viagem de uns quantos quarteirões.
Chegados à minha porta, o João despediu-se de mim com o mesmo sorriso com que me recebeu em sua casa. Por sua vez, a Rosa deu-me um beijo na cara, o qual eu retribui de bom grado. Quando me preparava para sair do carro, o João perguntou-me se fazia alguma coisa no dia seguinte, uma vez que era sábado. Eu respondi-lhe que estava disponível, pois os meus sábados eram normalmente passados, metade na cama a dormir e metade no sofá a ver televisão. Ele disse-me para passar por sua casa a seguir ao almoço para irmos dar uma volta pela cidade. E assim foi, às 15h estava a bater à porta de casa dele. Para grande surpresa minha, foi a Rosa que me abriu a porta. Eu corei de imediato. Havia qualquer coisa que me levava a pensar que não teria o típico passeio de sábado à tarde.
As minhas suspeitas confirmaram-se, quando o João me disse que estava algo indisposto e que preferia ficar por casa, mas que de qualquer forma sempre podia ir passear com a Rosa, em vez de ficar em casa na rotina habitual. Respirei fundo e decidi que realmente era um programa bem mais interessante do que ficar por casa. Fomos passear pelo parque do bairro onde os velhos batiam a sua cartada alheios a tudo o eu se passava em seu redor. Conversámos durante horas, sobre assuntos sem qualquer importância, meramente pelo prazer da companhia um do outro.
Foi sem dúvida o melhor verão da minha vida. Todos os fins-de-semana estávamos juntos, sendo que, durante a semana, mal dormia à espera da próxima vez que estaria com a Rosa. A nossa relação desenvolveu-se e três meses volvidos havíamos passado de amigos a namorados. Ainda hoje sempre que tenho noitadas de copos com o João, não consigo deixar de lhe agradecer pela sua falsa indisposição.
Ass: Joaquim Trindade
. dia-a-dia de outras familias
. mulher à beira de um ataque de nervos
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