Terça-feira, 29 de Maio de 2007

Final inconclusivo

Na minha vida, poucas coisas me deixaram tão abalado como a tarde em que a Rosa pôs termo à nossa relação. Todo o meu ser acreditava que era possível fazer com que as coisas resultassem. Após a conversa que tive com a Rosa deambulei pela cidade sem norte. Era uma noite especialmente fria e o vento cortava-me os olhos, o que quase servia de pretexto para as lágrimas que insistiam em correr pela face.

 

 

Ao vaguear pela cidade, imagens de momentos bem passados com a Rosa assombravam a minha memória. Como é que eu equacionava como possível manter uma relação à distância, se esta nunca havia extravasado os limites desta cidade, quanto mais do país? Só quando passei pela estação de comboios é que percebi há quanto tempo errava sem destino. Eram duas da manhã e eu estava na rua, ainda para mais tão distante de casa. A rapidez com que os pensamentos e imagens corriam na minha cabeça fizera com que eu me tivesse abstraído por completo do meio que me envolvia. Era altura de voltar a casa e de pôr as ideias em ordem.

 

 

No regresso, ecoava insistentemente na minha cabeça a frase com a qual a Rosa me havia abandonado: “VOU AMAR-TE COMO SEMPRE!”. Ainda assim tinha decidido ir para Inglaterra estudar, bem como pôr um ponto ao nosso noivado. Para mim foi uma decisão demasiado fria, nem sequer houve a tentativa de manter a relação, pura e simplesmente acabara, quase da mesma forma que havia começado, abruptamente.

 

 

Ao entrar em casa todo eu tremia, nem tanto pelo frio da rua, mas pelo frio que vinha de dentro de mim, sentia-me vazio, como se correntes de ar corressem por mim. Apetecia-me gritar, mas não tinha forças. Sentei-me na cama iluminado somente pela lua, sozinho com os meus pensamentos, sozinho com a memória da Rosa. O travesseiro, que até então tinha sido um bom amigo, parecia querer fazer com que eu não me apoiasse nele. Não encontrava posição para que o sono viesse ao meu encontro. Ouvia a o meu coração pulsante de forma diferente, devia ser sugestão, mas não me parecia o seu pulsar habitual.

 

 

A noite foi passada em branco como seria de esperar. Na manha seguinte, todo o meu mundo parecia diferente, os cheiros, os sons, as imagens. Tinha uma série de questões que haviam ficado por ser respondidas e que tão cedo o não poderiam ser. Tinha ficado claro que a Rosa não queria estar junto de mim, apesar de todas as partículas do meu corpo me impelirem para junto dela. Neste momento, nem sequer queria imaginar como seria o meu futuro. Estava incompleto, não era o Joaquim que conhecia. Toda a minha alegria de viver se tinha dissipado da noite para o dia e, fizesse o que fizesse, não conseguia destrinçar o porquê da atitude da Rosa.

 

 

Por mais que se diga, o primeiro amor não se esquece, e muito menos o primeiro desgosto amoroso.


 


 

Ass: Quim

 

sinto-me: Contemplativo
música: So Long, Lonesome - Explosions in the Sky
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escrito por reversivel às 05:34
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