Segunda-feira, 6 de Abril de 2009

Será o adeus final?

  

 

   Coloquei a mesa para quinze, quinze amigos. Estava feliz, emocionada, fragilizada. Finalmente me tinha atingido a ideia de ficar longe de todos aqueles que eram especiais e importantes para mim. Cada uma daquelas pessoas tinha um pedaço de mim, do meu coração. Cada um deles estava gravado na minha memória por um ou mais momentos inesquecíveis.

 

   Desejei que todos estivessem ali, todos pelo mesmo motivo. Ou quase todos! O Joaquim viria apenas para me testar, de certa forma. Precisava de saber se estava mesmo tudo acabado. Até aquele arrepio frio que nós dá sempre ao ver alguém que já foi importante. Alguém que marcou ou fez ferida. A história interrompida. O livro rasgado a meio. Precisava de desfazer todas as dúvidas antes de embarcar na maior aventura da minha vida! Uma vida a dois!

 

   20:00. Começaram a chegar as primeiras pessoas, as minhas melhores amigas. Estavam lindas, crescidas, mulheres. Sentia muitas saudades delas, dos nossos tempos de meninas. Despreocupadas, livres, unidas e leais. Era bom relembrar tudo o que tinhamos passado juntas e o quão era forte o nosso elo! Cumprimentei-as carinhosamente e distribuimos elogios umas às outras. Tinha escolhido o vestido verde. O mesmo que já usara para impressionar o Joaquim. Hoje não necessitava de impressionar, apenas o escolhi porque me trazia sempre um sentimento de esperança e alegria.

 

   Soou a campainha e apesar de eu não ter ainda aberto a porta, já sabia quem se encontrava do outro lado. Cumprimentei o João com um abraço apertado e sentido. Troquei um longo olhar com o Joaquim e, por fim, também nos abraçámos. Não podiamos esquecer tudo o que se tinha passado, não podiamos ignorar que o nosso elo era diferente, mas também era forte. Entregou-me uma caixa, que parecia ser um disco. Agradeci-lhe e seguimos todos para a sala, onde nos aguardava a mesa do jantar.

 

   Ouviram-se muitas gargalhadas nessa noite, muitas palmas, muitos gritos de felicidade e, no seu final, muitos choros e lágrimas contidas. Foi uma noite em que os corações de todos nós batiam forte e em compasso e estavam a um palmo da boca, junto com as palavras de saudade.

 

   Quando todos sairam, fiquei imóvel naquela sala. Sentia-me vazia. Tinha transbordado de emoção toda a noite, tinha-me sentido acarinhada e completa. Agora que todos haviam partido, sentia-me num vácuo imenso. Comecei a abrir as prendas e as lágrimas brotavam, quatro a quatro. Todos aqueles objectos eram recordações de momentos vividos e partilhados com cada um. E à medida que a minha angústia aumentava, ao abrir e escutar o presente do Joaquim, tive a certeza de que estava a cometer um erro. Não podia ir viver para Londres permanentemente. O álbum que ele me ofereceu continha muitas das nossas músicas favoritas. Aquelas músicas que tinham embalado os nossos momentos a dois, que tinham limpado minhas lágrimas quando tudo terminou, as bandas sonoras do nosso amor.

 

   Num impulso peguei no telefone e marquei o seu número... e enquanto escutava o sinal de chamada tive impressão que toda a minha vida me passava pelos olhos como um filme.....

 

 

 

Ass: Rosa

sinto-me: feliz!
música: natasha bedingfield - soulmate
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escrito por reversivel às 23:21
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Domingo, 18 de Janeiro de 2009

Cada gesto tem a sua consequência

Num desses dias em que o tempo nos convidava a ficar em casa, tive uma inesperada visita do meu bom amigo João. O seu semblante, apesar de amável como sempre, estava desta feita algo carregado. Já não bastava a intempérie me que prendia no conforto de casa, como outra se adivinhava, estoutra que não molhava, queimava.

 

Após a ronda de cumprimentos do João lá por casa, pediu-me para falarmos em privado, pois tinha um assunto que queria discutir comigo. Subimos para o meu quarto e ao entrar, o João pediu-me que não ligasse o gira-discos, pois a conversa seria séria e precisava de toda a minha atenção. Eu estranhei mas concedi. Abri a janela e acendi um cigarro. Olhei-o nos olhos e disse que podia começar. O João estava agora mais agitado e parecia-me impaciente. Pedi-lhe que me dissesse logo ao que vinha pois não tinha paciência para este tipo de silêncios.

 

Após inspirar bem fundo começou a debitar informação. Talvez estivesse convencido de que me contando o mais rápido possível, tornaria o processo indolor. Falava-me da Rosa, dos seus planos, das suas opções. Por momentos desliguei, até que ele me perguntou o que eu tinha para dizer. Regressado à conversa, não sabia o que dizer. O João lançou-me um olhar de frustração e repetiu a questão, desta feita mais docemente.

 

Tinha, então, de responder se estaria presente no jantar de despedida dela. Esta pergunta assumia claramente contornos retóricos. O João já sabia que eu iria rejeitar, por isso logo tratou de me fazer a cabeça para que fosse. Disse-me que já tinha falado com a Rosa, que lhe tinha dito que eu iria sozinho. Comunicou isto à Mafalda que não se opôs e achou inclusivamente boa ideia, uma forma de fechar assuntos pendentes. Estava encurralado, só havia uma forma de sair desta situação, solução essa que passava por estar presente nesse tal jantar.

 

Adverti o João de que o faria por respeito, simplemente. Apesar de a ideia não me agradar nada, tinha o meu melhor amigo a fazer grande pressão para que fosse. Tinha ainda "autorização" da Mafalda que entendia esta como a situação perfeita para arrumar as questões passadas. Além disso a despedida da Rosa seria um até sempre, pois voltaria a Portugal, pelo que as coisas não podiam ficar como estavam.

 

"Decidi" ir. Como mandam as regras de boa educação e dada a situação que se vivia tive que ir procurar um presente de despedida. Se soubesse o impacto que teria, nunca teria oferecido tal coisa...

sinto-me:
música: Acetate Prophets - Jurassic 5
escrito por reversivel às 21:42
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Terça-feira, 23 de Dezembro de 2008

Life goes on...

   
 
    Após uma Primavera de amor, e todo o stress dos exames, regressei a Portugal. Desta vez, sozinha. Iria ser a minha despedida, pensava eu, e por isso, tinha que estar 100% disponível para todas as pessoas que nunca mais iria ver permanentemente.

 

    Tinha terminado mais um semestre do curso com sucesso e já só me restavam 6 meses para a tese final. Estava indecisa entre a decoração de interiores e a Escultura. Eram as minhas duas grandes paixões! Ficava com o Verão todo para pensar no assunto, sem ser influenciada pelo Matt, que queria que enveredasse pela decoração de interiores e, assim, poderiamos formar uma empresa juntos. Eu queria a minha própria identidade, a minha própria área.

 

     Chegada a Lisboa, fui recebida com alegria por todos, especialmente pela minha mãe. Estava feliz por ter a sua única filha de volta a casa. Ela estava desejosa que eu terminasse o curso para me ter de volta, por isso,  foi um choque saber que eu ficaria definitivamente em Londres. O meu pai agiu de forma natural e mostrou-me, pela primeira vez, apoio e carinho. Na sua óptica antiquada, eu estava a seguir o caminho certo e a sua atitude fez-me sentir ainda mais segura do que estava a fazer.

   

    Aproveitei ao máximo todo o meu tempo em Lisboa. Passeei pela cidade, revi caras, recordei momentos. Na companhia do meu primo João, revisitei a noite Lisboeta e conheci as novas atracções da nossa cidade que só agora começava a desenvolver-se verdadeiramente. Fiz questão de passar muito tempo com a minha querida Mãe, recolhi mais umas dicas para a cozinha e partilhámos confissões. Diverti-me entre amigos e ainda assisti ao casamento de uma grande amiga minha. Uma boda inesquecível, tal como eu queria que fosse a minha!

 

    Decidi despedir-me de todos os meus amigos com um jantar lá em casa. Não me tinham restado muitos grandes amigos, mas os que o eram, mereciam aqueles momentos. Estive o mais possível com todos, especialmente com o meu primo João. Foi com ele que passei a maior parte da minha infância, foi a ele que confessei os meus maiores medos e todas as expectativas e continuava a contar-lhe tudo, embora na altura em questão, não tivesse o seu apoio em relação ao Matt.

 

    Foi ele que me ajudou a reunir as pessoas e aconselhou-me a convidar o Joaquim. A principio mostrei-me relutante em fazê-lo, afinal nós não eramos amigos. Na realidade tinha receio em vê-lo e mais ainda que ele trouxesse a sua namorada ao jantar. Ia ser estranho vê-los juntos, era estranho vê-lo com outra pessoa que não eu. O João rapidamente percebeu os meus receios, e garantiu-me que ele viria sozinho.

 

     No dia do jantar, fiz questão de que tudo estivesse perfeito. Queria uma despedida em grande. Mal sabia que essa noite mudaria toda a minha vida....

 

 

 

 

  
 

Ass: Rosa

música: keane - the lovers are losing
sinto-me: bored to death
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Sábado, 26 de Abril de 2008

Depois da tempestade...



Com a Primavera, as horas de luz arrastavam-se enquanto nos perdíamos um no outro. Desde o início da minha relação com a Mafalda que esperava por este momento. As amarras que outrora me mantinham agarrado a um passado sem futuro já se haviam dissipado. Foi a Mafalda que não me deixou cair na indiferença com que habitualmente tratamos aqueles com quem privámos e que agora estão longe!

 

Estranhei não ter tido qualquer resposta da Rosa, mas também não era esse o intuito da carta que lhe enviara. Queria paz de espírito e tinha-a agora. Vivia o dia-a-dia de forma despreocupada, coisa que só se pode fazer mesmo naquela idade. Continuava no meu trabalho na loja de discos. Tinha poucas responsabilidade e nem sequer era mal pago. O melhor desse trabalho era estar constantemente a descobrir sonoridades novas. Várias vezes levava discos para ouvir em casa. Era um espécie de simbiose a que eu mantinha com as bandas nas horas mortas. Elas acompanhavam as minhas divagações, os meus sonhos, as minhas expectativas.

 

Todos os dias ao entardecer, após fechar a loja, ia ter com a Mafalda. Aproveitávamos todos os momentos possíveis para estarmos juntos. Com o tempo fui criando uma adição inexplicável à presença dela. Já não equacionava como possível passar um dia que fosse sem estar com ela, nem que fosse só para falar sobre como nos tinha corrido o dia. Os temas desinteressantes ganhavam um interesse inédito.

 

Quanto às aulas de guitarra já as havia abandonado. Não tinha um especial jeito para tocar guitarra e muito menos para aprender toda a teoria da guitarra clássica. Fiquei-me por tê-la como um passatempo. Já a Mafalda tinha um interesse bem mais profundo que eu. Continuava nas aulas e a evolução que fizera era já perceptível. Dias haviam em que me tentava ensinar qualquer coisa, e eu ficava olhar a destreza e graciosidade com que tocava, sem sequer tomar atenção ao que me estava a tentar transmitir.

 

Por várias vezes eu e a Mafalda adormecíamos a falar um com o outro, e uma vez que acordava sempre antes dela, passava largos minutos a observá-la. Era nesses momentos em que pensava no que nos reservaria o futuro. Novamente idealizava um futuro a dois a longo prazo. Se fosse possível parar o presente o transpor-lo para o futuro, com certeza que seria diferente. O problema é que se tem que viver...


 


 

Ass: Joaquim

sinto-me: alheado
música: Rapaz a Arder - A Naifa
escrito por reversivel às 19:02
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Sexta-feira, 7 de Março de 2008

Estabilidade?!




Após o fracasso que foi o jantar em que conheci os pais do Matt, decidimos que bastava apenas a nossa opinião e o que sentiamos um pelo outro, para avançarmos com qualquer plano. Tinhamos construído a nossa relação e tinhamo-la vivido sozinhos até então, e por isso, não havia qualquer necessidade de incluir mais alguém. Como jovens que eramos tinhamos a certeza que não necessitavamos dos conselhos de ninguém e muito menos a aprovação. Assim, continuámos a nossa vida em conjunto da mesma forma, trabalhando para o objectivo final: permanecermos juntos.

 

 

 

Com a chegada da primavera, Londres não estava tão sombria e fria e já era possível apreciar um bom passeio em Hyde Park. As árvores começavam a vestir-se de verde, as primeiras cores surgiam, os rostos londrinos iluminavam-se. Perante tal cenário, aproveitávamos todos os momentos que tinhamos para passear, pelas ruas, parques, jardins. Evitávamos ao máximo os espaços fechados, já que tinham sido o nosso refúgio todo o inverno. Queriamos paz e a melhor forma de a obter era refugiarmo-nos num qualquer parque, tendo apenas como companheiros os animaizinhos que por aí viviam: esquilos, corvos, patos, cisnes.

 

 

 

O Matt procurava com afinco uma casa para vivermos, enquanto terminava o curso e eu preocupava-me garantir que o semestre correria bem no final, pois assim sobrava apenas mais 6 meses para terminar. Já tinha delineado a minha vida, e apesar de saber o quanto era poderia mudar e o quão inesperada poderia ser essa mudança, esperava concretizar todas as minhas projecções a curto-prazo. No verão voltaria a Portugal para passar dois meses de férias e assim, seria a minha última grande estadia no meu país, pois pensava em mudar-me definitivamente para Londres e viver com o Matt.

 

 

 

A minha última estada em Lisboa havia deixado algumas marcas positivas e negativas, e tinha-me permitido ter uma visão mais abrangente da minha situação actual. Antes de ser confrontada com a questão “Joaquim”, tinha de alguma forma, uma réstia de esperança em relação a nós. Afinal tudo o que tinhamos vivido, prometido, sonhado, não poderia ter sido em vão. Não podiam ter sido apenas ilusões de adolescente, projectos irreais. No entanto, ao vê-lo com outra e ao sentir a sua frieza, estranhando-a pois não o conhecia assim, encarei a realidade. Realidade essa que era a nossa separação, a separação de dois caminhos que se uniram a outros e com outros seguiam diferentes rotas das antes traçadas. A inevitabilidade da vida era essa. Cair, levantar-se e seguir em frente. Perder e ganhar. Estagnar ou evoluir. Ambos tinhamos decidido ganhar e evoluir, seguir em frente, deixar o passado onde pertence. Na altura tive a certeza que tinhamos encontrado pessoas melhores, relações mais felizes e que nos preenchiam mais. Anos mais tarde percebemos de que o melhor é não ter certeza em relação a nada. A certeza é meio caminho para a desilusão ou derrota. É bom duvidar. É bom saber que nada está traçado ou definido, nós é que trabalhamos o destino à medida que ele se nos apresenta.

 

 

 

Porém, a carta do Joaquim não me surpreendeu. Sabia-o mudado, mas certas coisas permaneceriam sempre as mesmas e a memória de nós era tão boa, pura, tão feliz, que nem mesmo que ele deixasse de ser tudo o que era, iria querer estragá-la ou denegri-la. Recebi a sua carta com carinho, o carinho de um passado juntos, sem réstia ou vontade de esperança em relação ao futuro. Foi então que percebi que estavamos finalmente separados. Ambos tinhamos cortado os laços de amor que nos uniam e haviamos criado outros. Não pensei em responder, e nunca o fiz na realidade, nem o Joaquim me perguntou pela resposta. No intímo de cada um, era óbvio que não era necessário resposta. Sabiamos que terminava um ciclo e começariamos outro, tão distantes quanto era possível duas pessoas estarem após um relacionamento.

 

 

 

Em alturas de crise, gostaria de poder hoje em dia, sentir o distanciamento de outrora e também a sabedoria que ele me trouxe. O meu casamento com o Joaquim foi impulsionado por todas as coisas belas que nos uniam, naquele presente, no momento em que decidimos fazê-lo, sem pensar no passado. Por vezes essas coisas positivas parecem fazer parte de um oásis, que ao virar-mos costas ao caminho, podemos avistar. Já me começam a faltar as forças.........


 


 


 


 

Ass: Rosa

sinto-me: triste....
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Sexta-feira, 4 de Janeiro de 2008

Lavar as mãos


Após uma noite bem dormida, decidi por mãos à obra. Tinha de escrever uma carta à Rosa, pedindo-lhe desculpas pela forma como a havia tratado na carta anterior e, consequentemente, engolir um enorme sapo em prol de uma longa amizade. A tarefa era bem mais árdua do que parecera à partida. Já haviam passado trinta minutos e a folha continuava em branco. Não sabia por onde começar. Havia tanto para dizer e ainda assim esse tanto poderia reduzir-se a um simples pedido de desculpa. Pus um disco a tocar e deixei-me embalar pela melodia. A música fazia-me viajar apesar de não me mover um centímetro que fosse no meu quarto. Ouvi umas músicas de olhos fechados na esperança de entrar numa espécie de transe que me permitisse atenuar a dificuldade da tarefa. A verdade é que a música em nada ajudou, pelo que fui a janela fitar o céu enquanto fumava um cigarro. Da janela do meu quarto conseguia vislumbrar uma nesga de Tejo, nesga essa que em dias me parecia uma imensidão. Hoje certamente não era um desses dias, tinha mais em que pensar que naquela faixa azul por entre prédios e telhados.




Ouvia na rua as crianças a jogarem a bola e a rirem. Por momentos relembrei a minha infância passada naquele páteo chutando bolas com os meus amigos enquanto, na sombra de um plátano, as miúdas brincavam com as suas bonecas e falavam sobre o que fosse que tinham a falar naquela altura. Era, sem dúvida, uma época tão mais descomplicada, não havia namoros, não havia estudos, não havia trabalho, enfim as preocupações eram efémeras.




De volta à minha escrivaninha, peguei na caneta e comecei a escrever. Era como que um desabafo, um rascunho, uma conversa comigo mesmo que seria trabalhada até se tornar em carta para a Rosa. Decorrida uma hora tinha um texto de três páginas onde, basicamente, pedia desculpas à Rosa por a ter tratado de forma tão fria. Para ser absolutamente sincero o pedido de desculpas era mais dirigido a mim próprio que à Rosa, uma vez que eu havia-me tornado numa pessoa diferente, menos alegre e despreocupada. Esta carta servira para exorcizar os meus demónios, para tentar alcançar paz de espírito.




Uma vez terminada a carta, telefonei à Mafalda para que fossemos dar uma volta ou qualquer coisa do género. Para minha surpresa, esta ficara sozinha em casa pelo que me convidou para lá ir ter mais tarde e, inclusivé, passar a noite. Seria a primeira noite passada juntos em casa dos pais dela. Não eram pessoas que se deslocassem para fora da cidade regularmente. Aliás eles tinham vindo para Lisboa para escaparem à pasmaceira da cidade de onde provinham. Os seus pais regressaram durante o fim de semana a Braga para estarem presentes no funeral de um colega de escola que lhes era muito querido. A Mafalda por sua vez nunca chegara a conhecer o colega de seus pais pelo que a sua vida decorria alegremente.




Ainda em casa procurei uma garrafa de bom vinho na garrafeira do meu pai para que nos acompanhasse durante o serão. Como ainda dispunha de algum tempo passei a carta a limpo, coloquei-a no envelope e colei-lhe o selo. Perfumei-me e sai de casa. A caminho de casa da Mafalda deixei a carta no marco do correio e segui o meu caminho aliviado. Já era menos um motivo para demorar a adormecer...

Ass: Quim


 


 

sinto-me: (Ninja das Caldas)
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Segunda-feira, 24 de Dezembro de 2007

We wish you...

A todos os que nos visitam e acompanham a nossa história, queremos desejar um FELIZ NATAL e um próspero ANO NOVO.

Desejamos a todos a alegria natalicia das crianças quando abrem os presentes e um olhar brilhante e feliz sobre o próximo ano.

Sejam felizes!

Um abraço da equipa (nada) reversível,


Helena/Hugo
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Domingo, 2 de Dezembro de 2007

Growing up


Viver em Londres nem sempre foi um mar de rosas, especialmente pela mentalidade daquele povo. Desde sempre que me deparei com pessoas muito frias, amigas da razão, calculistas e demasiadamente educadas. Umas dessas muitas pessoas, foram os meus “sogros”.

 

 

Visto que, já namoravamos há 1 ano e o Matt já tinha estado de visita a Portugal para conhecer os meus pais, decidimos que seria altura de ser apresentada aos pais dele. Sempre gostámos de viver a nossa vida de forma algo independente, sendo mais fácil e mais cómodo, ele estar comigo no meu quarto, onde dormia com a Brigida, do que irmos a sua casa. No entanto, já era altura. Depois de ele estar em Lisboa, de tudo o que haviamos passado, a nossa relação assumia novos contornos, mais sérios. Tinha pois chegado a altura de conhecer os seus pais e, posteriormente, anunciar a nossa mais recente decisão.

 

 

Sendo que o curso para o Matt acabava e a mim restava um ano e meio, ele começaria a trabalhar em breve. Já lhe haviam feito uma proposta irrecusável. Uma firma nova de design de interiores, algo inovador no mercado e, praticamente, inexistente em Portugal, convidou-o para integrar a equipa. O salário era bastante aliciante, assim como o trabalho e sempre com perspectivas de carreira. Tudo isso fazia com que ele andasse bastante entusiasmado e eu também, já que partilhava das suas alegrias e tristezas, como qualquer outra boa namorada. Desta feita, marcámos um jantar num restaurante fino e trocámos a nossa roupa do dia-a-dia, por algo um pouco mais formal. O Matt não me havia escondido nada acerca dos seus pais. Eram pessoas conservadoras, londrinos puros nos seus ideiais e nas suas atitudes perante a vida e suas situações.

 

 

Como era de esperar, eu estava uma pilha de nervos enquanto me preparava no quarto. Escolhi mil combinações de roupa, até que a Brigida me convenceu a ir com um fato preto, uma camisola rosa de caxemira e uns sapatos condizentes. Qualquer pessoa que me visse naquele dia, haveria de achar que eu era uma senhora da alta sociedade londrina. Curiosamente havia comprado todas aquelas coisas numa feira de artigos em segunda mão, com pequenos defeitos, restos de estação. Ao contrário dos pais do Matt, os meus não eram abastados. Viviamos bem em Portugal e com algum esforço conseguiam manter-me em Londres, mas pouco sobrava para comprar roupas, por isso recorria aos mercados e feiras na ruas.

 

 

Entretanto toca a campaínha, era o Matt. Estava todo arranjado, com um fato preto, camisa branca. Levou alguma gravatas, das quais escolhemos uma rosa da mesma cor que a minha camisola de caxemira. E lá fomos nós, enfrentar o frio da noite para encontrar os seus pais. Ao chegar, avistamos o pai sozinho na mesa. Nesse momento temi o pior. A Mãe dele não me queria conhecer, foi o meu primeiro pensamento. Aproximamo-nos da mesa e dissemos boa noite. O pai dele levantou-se, com um sorriso encantador e recebeu-me como se fosse uma filha. Nesse momento, senti que já tinha ali o meu primeiro aliado. Sentámo-nos, pois a Mãe do Matt havia ido à casa-de-banho e estava a demorar. Enquanto ela não chegava, o George, pai do Matt, fazia-me as perguntas da praxe, mostrando muito interesse por mim e mostrando-se um homem afável e divertido. No momento em riamos às gargalhadas, chegou a mãe, Elizabeth. Senti-me gelar quando ela me estendeu a mão e me disse boa noite com cara de poucos amigos.

 

 

            O jantar passou-se de forma algo embaraçosa, pois se, por um lado, o George sorria muito e dizia muitas piadas, a Elizabeth mantinha uma pose séria e parecia pertencer a um grupo de jurados a meio de um julgamento, olhando-me e analisando todos os meus passos. Quando abriu a boca foi apenas para comentar que o Matt passava muito tempo fora de casa, coisa que fez enquanto sorria de forma maliciosa, como quem quer dizer que a responsabilidade era toda minha. Inesperadamente, o Matt levantou-se da cadeira e disse em voz alta que me amava e que, visto que começaria a trabalhar em breve, assim que possivel gostaria de viver comigo. Fiquei completamente sem palavras perante tal pedido, mas muito feliz. O pai aprovou a ideia de forma carinhosa, mas a sua mãe levantou-se da mesa e indignada respondeu que se soubesse que o jantar haveria de ser por aquela noticia, não teria saído de casa.

 

 

Naquele momento, tive uma incrivel sensação de dejá-vu. Algo me remeteu directamente para a noite em que o Joaquim me pediu em casamento e o meu pai estragou os nossos planos e a nossa felicidade. Receava que o mesmo que me acontecesse com a mãe do Matt, receio este que era tão visivel que, o seu Pai pousou a mão em cima da minha e pediu-me que tivesse muita calma e paciência, pois o Matt era o menino da Mamã e ela apenas não estava preparada para abdicar dele. Com o tempo tudo se resolveria, prometeu-me o meu sogro.

 

 

Longe estava eu de imaginar que o filme se repetiria......


 


 


 


 

ASS: Rosa

sinto-me: natalícia
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Terça-feira, 23 de Outubro de 2007

Re-nascer do sol

Os dias tranquilos pareciam não querer durar muito. O reencontro da Rosa viera abalar as fundações da minha relação com a Mafalda. Os seus medos haviam sido postos a descoberto bem como as minhas fraquezas. Teoricamente tal partilha deveria ter consolidado a situação, mas por obra da sorte, não foi esse o efeito de tal aberta conversa. Competia-me tentar remediar o mal que a minha insegurança trouxera e, como tal, achei que seria adequado proporcionar o serão mais agradável possível à minha companheira como forma de pedir desculpas. Fui buscá-la a casa por volta das onze. Tinha-lhe pedido que não jantasse pois queria que o fizesse comigo. Assim sendo fomos directos ao Príncipe Real para jantarmos no Snob, um bar/restaurante que reunia a elite de pensadores da nossa cidade. Esses pensadores tinham o hábito de jantar fora de horas e de transformar as suas refeições em autênticas tertúlias onde se discutia a sociedade e política. Não era com esse propósito que lá iríamos jantar. Tinha escolhido esse sítio pela sua decoração e pelo ambiente íntimo que proporcionava, adequado a um momento a dois, além do que àquela hora dificilmente se encontraria outro sítio para ter uma refeição.

 

 

 

Por entre o fumo espesso dos charutos e de cachimbos vislumbravam-se homens que, em discussões aguerridas, defendiam com unhas e dentes os seus pontos de vista sobre o estado do nosso país. Esta parecia ser uma condição de que padeciam muitos dos que por lá se encontravam. Deformação profissional certamente uma, vez que estávamos perante jornalistas, advogados e políticos. Os ânimos acalmaram-se assim que a comida chegou àquela mesa, pelo que o silêncio começou a alastrar por toda a sala. Era o momento adequado para falar de novo com a Mafalda sobre o assunto que nos atormentava. Apesar da última conversa sobre o tema Rosa não ter surtido grande efeito, estava apostado em que esta fosse um tanto ou quanto diferente. Queria deixar tudo em pratos limpos de forma a termos paz e sermos novamente só os dois.

 

 

 

Confidenciei que me tinha sentido bastante desconfortável ao rever a minha ex-namorada, mas tal reacção parecia-me natural. Afinal de contas tinha tudo ficado suspenso por desígnio próprio da Rosa e de seu pai. Quer quisesse quer não, a Rosa faria para todo sempre parte da minha história, bem como a Mafalda o fazia agora ainda que de forma diferente. Esta já tinha conhecimento da carta que eu tinha recebido por parte da Rosa, à qual eu respondera de forma demasiadamente fria. Disse-lhe que me sentia mal pela forma que tratara a Rosa, apesar de ter a razão do meu lado. O Joaquim que escrevera aquela carta era um Joaquim magoado e altivo com sede de vingança. Estava bem longe daquilo que me imaginava, mas tudo tinha sido feito por uma razão. Essa razão estava à minha frente ouvindo-me religiosamente.

 

 

 

A Mafalda interrompeu-me. Disse estar feliz por ter sido ela a razão pela qual eu tinha respondido de forma fria e desinteressada à Rosa, contudo, uma vez que compreendia a minha posição aconselhou-me a escrever de novo à Rosa. Disse-me que apesar de tudo o que havia passado era claro que eu ainda gostava da dela. Talvez não fosse da mesma forma, talvez somente como amigo, uma vez que nos conhecíamos há algum tempo.Ainda para mais era o melhor amigo do seu primo pelo que deveria deixar resolver a situação. Eu agradeci-lhe por compreender a minha situação. A forma bruta como tratara a Rosa, por muita justificação que tivesse, não era de todo a forma que eu queria ser lembrado. Esta era mais uma demonstração de confiança que a Mafalda tinha em mim. Tinha-me como incapaz de a trair, isso era um dado adquirido. Tal demonstração fazia com que a admirasse ainda mais.

 

 

 

A ceia acabara por volta da uma da manha e, uma vez que estávamos perto do bairro alto, decidimos fazer a ronda habitual aos bares de forma a espairecer e ouvir boa música. Nesta noite sentia-me mais próximo da Mafalda do que estivera outrora. Havíamos superado um entrave juntos e isso era muito importante. Por essa razão não quis que a noite acabasse da mesma forma que as outras. Tinha de ser uma noite especial para ambos de forma a celebrar este marco. Passámos por minha casa de forma a que pudesse pegar uma série de coisas das quais necessitava. Eram já quatro da manhã quando saímos de minha casa. Dirigimo-nos ao Jardim do Torel. Comigo trazia a minha guitarra, umas mantas e um “termus” com chá quente. Iluminados pela lua fomos esperando pelo nascer do sol embalados por músicas de que ambos gostávamos. Assistimos abraçados ao nascer do sol, como que celebrando uma nova fase da nossa relação. Adivinhava-se uma fase mais serena de entrega mútua ou pelo menos a tentativa da minha parte. Deixei a Mafalda em casa e ao despedir-se de mim agradeceu aquele momento que havia-mos tido. Disse-me que deveria ter uma boa noite de sono de forma a que no dia seguinte começasse a pensar no que escrever à Rosa. Tanto eu como ela queríamos que a situação se resolvesse de uma vez por todas. Seria uma pedra a menos no sapato...


 


 


 


 

Ass: QUIM

sinto-me: cansadote assim por dizer
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Terça-feira, 16 de Outubro de 2007

El niño



Ao regressar a Londres, parecia que um furacão havia passado pela minha vida, colocando a descoberto todas as minhas fraquezas, os meus medos, as minhas inseguranças. Esta transformação em mim teve, como é óbvio, repercussões na minha relação com o Matt, provocando algum afastamento e frieza da sua parte. Não podia deixar de o compreender. Ver todo o seu esforço, dedicação e paciência, durante meses a fio, cair por terra apenas por um encontro infeliz. Desta forma, estivemos quase duas semanas sem nos vermos. Se eu por um lado não o procurei, creio que ele compreendeu que eu precisava desse espaço e quis dar-me a provar um pouco do “veneno”.


 

Aquelas duas semanas foram amargas, vazias.... Era inegável que eu havia mudado a minha forma de amar, de me entregar, mas amava o Matt e ele fazia-me tanta falta....! Ainda assim, precisei daquele tempo. Precisei de pensar muito bem em tudo o que estava a fazer e planear ao lado dele. Faria algum sentido continuar a alimentar sonhos, expectativas e projecções se tudo não passasse de uma tela de surrealismo? Com a ajuda do descernimento que ainda possuia, consegui concluir que não, mas o tempo ajudou-me a perceber que a situação surreal se chamava Joaquim. Só ele era algo já tão fora da minha realidade, que nem poderia ser considerado uma ameaça. O impacto daquela noite não havia sido mais do que a surpresa de o ver e o nervosismo inerente a uma situação mal resolvida. Foi como que uma viagem no tempo e o constactar de como a vida muda tanto, em tão pouco tempo. Ali estavamos nós, ex-namorados, quase noivos, a apresentarmos os novos pares um ao outro. Depois das juras de amor, dos projectos, tudo tinha caido no saco do esquecimento. Cancelados os nossos momentos pela eternidade, haviamos encontrado noutros braços, um conforto feliz, um porto seguro que nos proporcionava a estabilidade necessária e nos permitia erguer novamente as defesas, sem perigo de nos embargarem a obra.


 

Volvidas essas duas fatidicas semanas, procurei o Matt e jurei-lhe o meu amor. Eterno jamais o seria, pois nós estavamos longe de alcançar esse estado, mas era sincero, era forte, e duraria o tempo necessário para deixar a sua marca nas nossas vidas, nas nossas histórias. Nós eramos feitos do mesmo tecido, ele proporcionava-me a estabilidade e a segurança que eu precisava, ao mesmo tempo que me surpreendia diariamente e dinamizava as nossas vidas. Eu dava-lhe o calor e a consciência do coração, combatendo toda a sua frieza e mania de seguir sempre a cabeça, ignorando os sentimentos. Funcionava como a sua consciência, o seu lado esquerdo. Despertava nele os mais nobres sentimentos e gestos e aos meus olhos ele era perfeito. Falámos sobre o episódio em Lisboa, era assunto ao qual não poderiamos fugir. Tinhamos que esclarecer tudo o que se havia passado naquela noite, para que não existissem dúvidas, inseguranças. Tive que falar-lhe da minha relação mais a fundo, explicar-lhe as razões da ruptura, para que ele assim conseguisse entender ainda melhor o motivo do meu choque. Expliquei-lhe também que, apesar do tempo passado, ainda estava vulnerável, ainda me sentia insegura e receosa de me entregar. Temia as consequências da entrega cega, do amor intenso e arrebatador que deixa um vazio no peito quando falta a outra metade do coração. Ele mostrou-me toda a sua compreensão e prometeu ser paciente, esperar que depositasse toda a confiança nele e fosse sempre a sua companheira e amor.


 

Voltámos à boémia londrina, entre concertos, galerias de arte, feiras de rua e passeios no parque. Embora a chuva fosse tudo menos convidativa a uma passeio no jardim ou na cidade, enfrentava-mo-la juntos, sem nunca perder o gosto. Fascinava-nos o cheiro a terra molhada, as noites frias passadas enrolados num cobertor, partilhando um chocolate bem quente. Foram dias tão perfeitos quanto os que passámos em Sines. Dias em que pensou em para sempre, em até ao fim das nossas vidas.


 

Em clima de felicidade, pensei por momentos em escrever ao Joaquim, para esclarecer todo aquele embaraço na noite em que nos cruzámos. Depressa desisti da ideia. Ele tinha sido mais do que explicito na sua carta. O que pretendia era distância e certamente por pensar que era a melhor atitude a tomar. Assim, deixei tudo nas mãos do tempo. Somente o tempo definiria se alguma vez voltariamos a falar.......

 

 

 

 

 

 

Ass: Rosa

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